Os franceses têm experimentado cada vez mais os estabelecimentos cooperativados sem fins lucrativos. Uma iniciativa que se espalha pelo país.
Um lugar onde a comida sai 40% mais em conta, priorizam os produtores locais e os consumidores são também donos e empregados.
Estes estabelecimentos vendem tudo o que um supermercado tradicional vende, a diferença é que o consumidor-patrão-empregado adere ao projeto comprando uma parte social de acordo com o seu orçamento.
Geralmente o custo varia de 10 euros para estudantes a 100 euros para pessoas com rendimentos mais altos e automaticamente passam a ter direito de voto sobre as decisões que são tomadas.
Os membros deste tipo de supermercado atuam nas mais variadas profissões e doam 3 horas por mês do seu tempo abastecendo as gôndolas com produtos, limpando o estabelecimento e/ou recebendo e descarregando os produtos.
A revanche das cooperativas
No século XIX, a França teve diversas cooperativas de agricultores, mas que foram dizimadas na década de 70 pelas grandes redes de supermercados que traziam o conceito de fast-food, tudo prático sem muito trabalho.
Ironicamente, nesta mesma década, surgia em Nova York, na Meca do capitalismo o primeiro supermercado cooperativado, participativo e sem fins lucrativos do mundo : o Park Slope Food Coop.
Fundado em 1973, no bairro do Brooklyn, a cooperativa americana oferece 15 mil produtos para mais de 17 mil membros. Foi o Park Slope Food Coop que inspirou dois americanos que moravam em Paris a criarem o La Louve (a loba, em francês) em 2010. Um deles, Tom Boothe, fez inclusive um documentário ( em inglês) sobre o projeto, intitulado “Food Coop”.
Remuneração justa e geração de empregos
De acordo com Charles Godron, membro do mercado La Cagette ( caixote em francês), os supermercados tradicionais não remuneram os produtores como deveriam.
Um quarto dos agricultores franceses ganham em média 600 euros por mês enquanto que o salário mínimo é de 1.539,42 euros. Além disso, os produtos percorrem uma grande distância, recebem uma massa de embalagem, que gera um passivo ambiental e social.
Os mercados cooperativados são criticados por não gerarem postos de trabalho, mas Godron rebate dizendo que o seu estabelecimento tem oito pessoas assalariadas para ajudar os 3 mil membros em suas tarefa, enquanto que o supermercado que ocupava antes o espaço empregava apenas duas pessoas e tinha somente um fornecedor.
Comer bem é uma questão social
Pelo fato de não ter fins lucrativos, os produtos saem mais baratos do que num supermercado tradicional.
Existe uma taxação fixa em cada produto que gira em torno de 20%. Então, se um pedaço de queijo custou 1,20 euros, o mercado pagou 1 euro ao produtor e os 0,20 é para custear as despesas do estabelecimento.
Dos 80 projetos deste tipo de mercado, 35 funcionam plenamente e os seus membros se reúnem uma vez ao ano para trocar experiências e ajudar os novos projetos a saírem do papel.
Por mais que sejam criticados de “modismo”, os membros destas iniciativas querem que a alimentação saudável de baixo custo chegue a quem mais precisa.
Todos os supermercados oferecem vários produtos do mesmo tipo, com preços e perfis diferentes. A ideia é que os clientes tenham opção na hora de comprar, mesmo se o orçamento familiar for mais apertado.
Segundo Léa Baillet, uma das empregadas do Super Quinquin, situado na cidade de Lille no norte da França, as pessoas que frequentam estes mercados trazem um outro tipo de consciência, elas são sensíveis ao projeto e o que importa é atingir mais e mais pessoas, furando a bolha do sistema tradicional dos supermercados.
Antes de trabalhar neste mercado, Léa era mestranda de Sociologia e deixou de lado seu projeto para aderir à causa.
Para Charles Godron, do La Cagette, este é um sistema de governança e de tomada de decisão em grupo que pode ser transferido para qualquer tipo de comércio. Para ele, sair de um sistema e criar um novo, onde um não é contra o outro, é maravilhoso. A cooperação é muito positiva.
Fonte: Colabora
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