A indústria da construção civil é uma das que mais causa impactos ambientais como: derrubada de árvores, aterramentos e também por não tratar adequadamente os resíduos.
Algumas construtoras reaproveitam, peneiram os restos de obra, escombros das demolições, mas uma grande quantidade de sacos de cimento acabam parando nos aterros sanitários. Só em 2018 o Brasil consumiu 52.847.636 sacos de cimento por mês de acordo com os dados do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento.
O pó do cimento impregna o papel do saco impossibilitando a reciclagem, pois o custo deste processo seria muito caro. Este fato despertou o interesse do moveleiro e artista plástico Alexandre Toscano.
Interessado em sustentabilidade e em pesquisa de materiais Alexandre partiu para uma série de tentativas para reutilizar o saco de cimento. “Quando soube que este material tão nobre não era reaproveitado, logo passei a imaginar novas aplicações para ele”, comenta Toscano.
O papel do saco de cimento tem uma gramatura alta e muito resistente. Alexandre picou os sacos e fez diversas misturas com aglutinadores até chegar ao produto ideal, uma espécie de pasta com grande resistência e rigidez após secagem, o que permitiu inúmeras aplicações em movelaria. Nascia, então, o ecomármore .
Além dos sacos de cimento, Alexandre usa madeira e outros resíduos de demolições, cavaco (o toquinho de madeira) e serragem. Já foram utilizadas telas de arame, sementes, pinhas e rolhas. Para estas últimas será necessário mais pesquisas, uma vez que o material poroso não responde bem a alguns testes de resistência.
O moveleiro foi contemplado em alguns editais da Faperj e hoje o ecomármore está na sua quinta geração, mas devido a crise econômica que assola o país, a pesquisa tem sido tocada com recursos próprios e o processo de patente do ecomármore está em andamento.
Segundo Alexandre, o pó de cimento impregnado no saco colabora ainda mais para o fator resistência do material. É uma matéria prima sustentável que, se produzida em escala maior, pode ser uma solução para o descarte indevido deste papel. Alexandre recolhe os sacos de cimento nas obras e empresas da região de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, perto da sua loja/atelier Vem da Serra (www.vemdaserra.com.br).
Conquistando espaços
A arte de Alexandre Toscano pode ser classificada de “rústico-urbana” com grande preocupação de se manter fiel ao processo artesanal. São peças assinadas com preços acessíveis.
Através do e-commerce, ele recebe encomendas e envia produtos para todo o Brasil. As peças em ecomármore criadas em parceria com designers já foram expostas em mostras como a CasaBrasil.RS, a exposição Rio+Design, a ArtRio16 e na mostra “Um Banquinho para Chamar de Seu” paralela a Novos Talentos Brasileiros – Design & Arte, também no Rio de Janeiro.
O aproveitamento de sobras no atelier Vem da Serra não se restringe apenas aos sacos de cimento vazios. Certa vez, após terminar uma encomenda com ferros curvados, em fevereiro de 2016, Alexandre olhou as sobras no chão e viu a imagem de uma santa. Logo a soldou e a colocou na vitrine, o produto tem sido um sucesso de vendas.