A adolescência é uma fase da vida recheada de conflitos, questionamentos e a busca pela própria identidade e por um lugar no mundo. Seja no ambiente familiar ou na escola, lidar com adolescentes é sempre um desafio, que para vencer é necessário empatia.
Tudo o que eles querem é se expressar. Têm ansiedade sobre o futuro e a falta de perspectiva mexe com o emocional, que reflete tanto no ambiente familiar como na escola.
Mesmo com a dura rotina, que extrapola a sala de aula, os professores se tornam peças fundamentais e se envolvem na busca de soluções quando percebem que alguém não está bem.
Mirou no que viu e acertou no que não viu
Rilton Vianna, é um jovem professor no interior da Paraíba, da cidade de Cajazeiras, que ao ajudar um aluno, descobriu o quanto os jovens se sentem angustiados.
Tudo começou quando uma de suas alunas lhe falou sobre um colega de classe que estava se isolando da turma, com baixa autoestima.
Para não melindrar o rapaz com perguntas, Vianna pensou numa dinâmica incluindo toda a turma.
“Escrevam em um papel uma angústia que estejam sentindo”, pediu Vianna a metade dos alunos da turma. O texto era escrito anonimamente e podia se relacionar a angústias da vida escolar ou familiar.
À outra metade, ele pediu mensagens genéricas de apoio ou conforto ou mais específicas, para motivar seus colegas.
Os jovens querem ser ouvidos
Mensagens misturadas, círculo formado e Vianna sorteou quem iria ler o quê. “Quem tiver em mãos um papelzinho com uma angústia, leia-a em voz alta. E todos aqueles que se identificarem com aquela angústia, deem um passo à frente.” – explicou
Foi nesse momento que as aflições vieram à tona: baixa autoestima, dificuldade em conversar com os pais, não se sentir bom o bastante, a pressão em se preparar para o vestibular, sensação de ser invisível ou incompreendido por parte dos adultos.
A cada papel lido, muitos davam um passo à frente. Em seguida, Vianna pedia que alunos que tivessem em mãos mensagens de conforto as lessem também.
Segundo o professor, nenhum leu a própria angústia, mas se identificaram com os sentimentos dos colegas entre choro e abraços.
“Uma das maiores lições que tirei disso é que os adolescentes não se sentiam ouvidos. Não achavam que havia espaço para darem sua opinião”, diz Vianna, que ficou impressionado que nenhum adolescente zombou do outro.
A outra surpresa foi o agradecimento dos pais, dizendo que seus filhos estavam mais abertos ao diálogo, além disso, houve uma melhora no desempenho em sala de aula.
A experiência viralizou
A dinâmica foi feita nas outras turmas do ensino médio e o resultado foi surpreendente. “Fiquei impressionado porque, em todas as turmas, quando o assunto era incompreensão da família, falta de diálogo ou distanciamento dos pais, o número de pessoas que deram um passo à frente foi muito alto. Às vezes, os alunos chegam à escola com a mochila carregada não só de livros, mas também de angústias.”
Rilton decidiu então compartilhar essa experiência nas suas redes sociais dizendo que há 8 anos lecionava para o ensino médio, mas somente agora percebeu o quanto são carentes.
Ele estima ter recebido umas 500 mensagens de professores universitários e até de educadores de jovens em processo de reabilitação.
Dentre as mensagens, duas professoras piauienses, da cidade de Bocaina, relataram que fizeram a dinâmica porque estavam preocupadas com uma turma de ensino médio que vivia num clima de total desinteresse.
De acordo com Maura Silva e Mariane Carvalho da Rocha, professoras, respectivamente, de matemática e espanhol de uma das escolas estaduais do estado, a experiência foi igual à de Cajazeiras: uma catarse de sentimentos
“Nos chamaram a atenção os relatos de vida. Às vezes a gente olha para a disciplina que lecionamos, sem ter ideia de o que está passando na cabeça deles.”- diz Maura.
Nesta cidade de 4.500, esta professora era procurada pelos alunos para desabafar e acabou descobrindo casos extremos de abusos e doenças mentais, o que levou a pedir ajuda de psicólogos para lidar com estas situações.
“Acho que é uma dinâmica que vale a pena repetir quando sentir que é necessário” para lidar com problemas em sala de aula, opina a professora. “Ou mesmo só para criar um laço entre professor e aluno que vá além da disciplina.”- conclui.
Fonte: BBC Brasil