Na história da humanidade as drogas fazem parte da conexão do homem com o divino. O elemento que gera êxtase e aguça a visão premonitória ou não em algumas religiões.
Para o escritor inglês Aldous Huley, autor de “Admirável Mundo Novo” e “As Portas da Percepção”, ele acreditava que o uso controlado de drogas podia favorecer a produção de grandes obras artísticas. Em “As Portas da Percepção”, ele discorre sobre esta sua tese ao usar mezcalina (droga da década de 40 e 50). O experimento foi acompanhado pela sua mulher e por um médico.
Por mais que haja este vínculo das drogas com rituais sagrados e movimentos de contra cultura como os da década de 60, o que vemos desde então é uma explosão do consumo exacerbado a ponto de hoje o uso de entorpecentes ter que ser tratado como caso de saúde pública.
Como a espiritualidade funciona no processo de cura?
Existe uma diferença entre espiritualidade e religião. A espiritualidade é definida pelos próprios indivíduos, livre de regras religiosas e reflete a busca por explicações acerca da condição humana. A religiosidade por sua vez é definida com prática e envolvimento com uma religião específica, envolvendo crenças, rituais com o “transcendente” definido como Deus ou outras divindades.
Há algumas décadas a ciência vem estreitando laços com a espiritualidade e a religião. Psicólogos e psiquiatras têm procurado uma abordagem bio-psico-socio-espiritual, ou seja, abordar todos os aspectos do paciente de modo integrado.
Apesar da resistência, ceticismo e preconceito de uma parte dos profissionais de saúde, estudos revelam que através da espiritualidade tem-se a oportunidade de fazer uma análise da vida, saber quais são suas qualidades, quais são os seus sentimentos e quais comportamentos devem ser mudados, muitas vezes neste momento acontece o “despertar espiritual”.
Com relação às drogas ilícitas, as causas são as mais diversas que vão desde a curiosidade e aceitação em um grupo, a baixa autoestima, como também não saber lidar com as frustrações da vida.
Para o psiquiatra Fabrício Oliveira, especialista em dependência química pela Unifesp, o dependente químico usa a droga para encontrar a paz, a droga é uma espécie de altar sagrado interno.
É necessário que se faça uma substituição deste “sagrado” por algo funcional e prático da vida do paciente. Que ele saia da posição vitimista, de que os outros têm que fazer as coisas por ele. Que ele reveja as suas crenças não só em relação à sua religião (se tiver uma) como também às suas crenças internas sobre si mesmo, principalmente.
Ele alerta também que se a espiritualidade e a religiosidade não forem bem usadas, elas também podem se tornar uma dependência, um fanatismo.
O senso comum entre os profissionais da saúde que incorporam a espiritualidade em seus tratamentos, é que os usuários trocam o amor pelas drogas, deixa de se amar e de amar qualquer ente querido.
Aqueles que se predispõe a se tratar, a espiritualidade os levam à um processo de abertura interior, começam a observar a dependência química por outro ângulo, começam a fazer uma auto análise.
E este auto conhecimento, o desenvolvimento espiritual não os deixam ressentidos e amargurados, pois, ao mesmo tempo em que conseguem ver as consequências negativas da dependência em suas vidas, estão num processo de perdão a si próprio. E a gratidão parece ser também um componente importante da recuperação da dependência.
A WPA (World Psychiartry Association) listou algumas considerações sobre Religiosidade e Espiritualidade na Psiquiatria, que podem ajudar e orientar quanto a esta temática na prática clínica:
As drogas lícitas
Quando se fala em drogas, inclui-se também as drogas lícitas como cigarro, álcool e calmantes tarja preta. Sobre estes últimos, houve um aumento do consumo principalmente entre a população jovem.
Segundo o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados da Anvisa, em 2015 começa a escalada e em 2018 os brasileiros compraram mais de 56,6 milhões de caixas de medicamentos para ansiedade e para dormir — cerca de 6.471 caixas vendidas por hora ou, aproximadamente, 1,4 bilhão de comprimidos em um ano. Por conta destes números, o Brasil foi “premiado” pela OMS como o país mais ansioso do mundo!
Para o terapeuta Ricardo Alexandre Miguel é necessário que as famílias dos dependentes químicos reveja a sua postura diante do seu doente. É necessário que se deixe de lado a emoção, o olhar de pena.
A emoção limita as atitudes práticas, e enérgicas como o “famoso dizer não”. Para os familiares é difícil aceitar que o dependente não tem um lado emocional equilibrado, a empatia não é constante ou inexiste, porque o único foco que ele tem é a droga.
O especialista afirma que se faz necessário perceber como as famílias tratavam o dependente antes e depois das drogas. Não se pode se relacionar com eles da mesma maneira.
Não percebe que está se destruindo?
Esta é a pergunta que milhares de famílias fazem diante desta situação. Segundo Ricardo, quando a pessoa usa a droga pela primeira vez, a química mexe com as conexões neurais.
Há um grande prazer e a pessoa cria um quadro mental daquele primeiro uso e este quadro mental se sobrepõe à todo e qualquer objetivo de vida que este dependente tinha. É a memória eufórica que o motiva a buscar a droga.
Quando ele consome repetidas vezes, ele está em busca daquele primeiro prazer. O dependente não percebe que a droga está fazendo mal, ele tem uma autoimagem de auto suficiência.
“Tudo o que dirige a nossa vida é o foco de atenção. É necessário ter uma imagem mental que se sobreponha à memória eufórica.”- afirma.
Às vezes as situações de risco, como estar diante da morte, faz com que a pessoa saia da dependência. Há casos em que os próprios dependentes químicos conseguem colocar um objetivo na vida e saem do foco das drogas.
No mundo atual cheio de competitividade, padrões impostos por um mercado de consumo, auto realização calcada no sucesso financeiro, tem gerado uma legião de frustrados. E é através do autoconhecimento, do por quê das nossas atitudes, é que lidaremos melhor com as situações que a vida nos impõe.
Fontes: TV Nupes, SECAD, Canal do terapeuta Ricardo
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