Muito mais que uma forma de terapia ou hobby, o artesanato é também um resgate de saberes ancestrais, empoderamento e sustentabilidade financeira para as comunidades que o confeccionam.
Desde que a produção de objetos e roupas em escala industrial caiu no gosto da população, o “fazer à mão” se desvalorizou. Até as lembrancinhas de viagem entraram no processo de padronização com preços bem módicos, concretizando o “industrianato”.
Foi preciso algumas décadas para que esta história começasse a reverter. Um dos fatores é a sustentabilidade, de não agressão ao meio ambiente ao produzir uma peça, seja usando corantes naturais ou usando materiais recicláveis.
Um outro dado muito importante foi o fortalecimento do papel das mulheres, cujo trabalho artesanal era visto como “algo menor”, um passatempo. Com a luta feminista, as mulheres que já estavam no comando de centenas de cooperativas espalhadas pelo país, ganham mais espaço e visibilidade.
A contribuição do design
Trabalhar com as mãos atiça a criatividade e produz peças únicas e para valorizar o trabalho artesanal, a associação com designers foi de suma importância.
Esta parceria possibilitou de um lado o aprendizado sobre a cultura das comunidades rurais e do seu modo de produção e do outro um melhor acabamento das peças, a valorização do tempo gasto na fabricação e o aprimoramento da visão de mercado.
Existem algumas iniciativas que transformaram a produção artesanal que vale a pena conhecer:
Rosenbaum – a gente transforma: apresenta diferentes projetos que combinam design, arte e artesanato em diferentes partes do Brasil e do mundo.
Artesol – Artesanato solidário: ajuda na criação e estruturação de grupos produtivos e empreendimentos, oferece consultorias e promove oficinas, exposições etc.
Instituto-e – seu objetivo é criar uma rede de desenvolvimento sustentável, apoiando, conectando e disseminando grupos e práticas de sustentabilidade criativa.
Tucum Brasil – comercializa a arte e o artesanato indígena de diferentes etnias. A ideia é conectar os povos urbanos com os chamados de “povos da floresta” e aliando tradição com contemporaneidade. As obras incluem artefatos de moda, utensílios, esculturas, cachimbos entre outros.
Re-roupa – o slogan “Roupa feita de roupa” resume em poucas palavras a ideia da marca. As peças são feitas com retalhos, finais de rolos de tecido e roupas defeituosas. Além disso, ainda há projetos sociais, oficinas, palestras e parcerias com outras empresas focando a questão do consumo e do reaproveitamento de resíduos.
Fellicia – objetos de decoração criados com fibras naturais. O artesanato é combinado com uma iniciativa social que capacita e ajuda artesãos do Sergipe.
O “feito à mão” ganha espaço no mundo da moda
Apesar do artesanato não ser uma novidade neste segmento, as marcas têm investido na sustentabilidade e exclusividade. Além disso, o artesanato permite inúmeras possibilidades de incorporação na indústria da moda e, ao mesmo tempo, pode não excluir as formas tradicionais.
Isto significa que a peça pode ser tanto totalmente produzida quanto somente customizada de forma manual.
Uma das estilistas brasileiras que valoriza o trabalho feito à mão é Martha Medeiros, dona da grife que leva o seu nome.
A renda usada nas peças é produzida por artesãos de comunidades do Nordeste brasileiro. Além de ser uma forma de promoção de emprego e renda, o resgate da renda feita à mão feita pela grife Martha Medeiros foi uma forma de divulgar a tradição das rendeiras que estava fadada ao fim por conta da falta de valorização.
Esta parceria levou a renda brasileira ser conhecida em lojas de Nova Iorque e Londres.
Fonte: Revolução Artesanal, Etiqueta Única