Ecologia e sustentabilidade

O altruísmo é vital para protegermos o meio ambiente, diz monge budista

Matthieu Ricard é biólogo e monge budista. Ele saiu da França, sua terra natal em 1972, após terminar seu pós-doutorado em genética, e vive no Himalaya desde então.

Autor de best-sellers , sua obra une a filosofia oriental e insights científicos. Neste texto ele aborda a importância vital do altruísmo em face dos atuais desafios ecológicos.

Segundo ele, não importa o tamanho e o alcance de suas ações para melhorar a vida no planeta, pois, se muitos promoverem pequenas melhorias, no final, teremos um resultado positivo. Boa leitura.

Diz-se frequentemente que políticos pensam nas próximas eleições, enquanto estadistas pensam nas próximas gerações. Chegou a hora dos políticos se comportarem como estadistas responsáveis, para não serem mal falados pelas gerações futuras, que dirão: “Vocês sabiam e, no entanto, nada fizeram”.

A questão do meio ambiente é complexa, tanto no nível científico, quanto nos níveis econômico e político. Porém, no fundo, trata-se da oposição entre altruísmo e egoísmo. Se não nos preocupamos com o destino das gerações futuras e das milhões de outras espécies que são nossas concidadãs neste mundo, não temos razão alguma para nos preocuparmos com o meio ambiente.

Entretanto, não pode ser assim. Não temos o direito de ameaçar o destino dos vários bilhões de seres humanos que virão posteriormente e de provocar a sexta maior extinção de espécies vivas no planeta desde o surgimento da vida na Terra.

É cômodo dizer que o problema é grave, mas que ainda não é demasiado tarde para agir. Claro que quando se está com o pé na beira do precipício ainda não é tarde demais. Porém, logo poderá ser.

Podemos admitir que os seres humanos são, em sua maioria, pessoas de boa vontade e que aspiram à construção de um mundo melhor. Isso pode ser atingido graças ao altruísmo. Se tivermos mais consideração pelo outro, construiremos uma economia atenta, promovendo a harmonia na sociedade e remediando, desta forma, as desigualdades.

Faremos tudo o que for preciso para não ultrapassar os limites do planeta, no qual tanto a humanidade como o resto da biosfera poderiam continuar a prosperar, se não desequilibrarmos o sistema.

Somos profundamente interdependentes e estamos todos no mesmo barco. Por isso, é importante elevar o nível de nossa cooperação e solidariedade.

Degelo dos glaciares

As geleiras do Himalaia – no Tibete, Nepal, Butão e Índia – constituem o terceiro polo do nosso planeta enfermo. O problema é que esse polo derrete com uma rapidez de três a quatro vezes maior do que os polos Norte e Sul.

Contam-se 40.000 glaciares de tamanhos diversos no planalto tibetano, e todos degelam rapidamente. Ao aquecimento geral que atinge todo o planeta, soma-se o fenômeno da poluição que, quando se deposita sobre a neve, escurece as geleiras. Assim, estas absorvem mais luz, e isso acelera o seu processo de degelo.

No total, há, atualmente, 400 lagos glaciares que ameaçam, no Nepal e no Butão, quebrar seus diques naturais e inundar as populosas regiões dos vales abaixo. Uma vez concluídas as inundações, e tendo a superfície dos glaciares diminuído ainda mais, ocorrerão secas, já que as torrentes e rios não mais serão alimentados pela neve degelada. Entende-se, olhando para tudo isso, por que as questões do meio ambiente e das mudanças climáticas nos dizem tanto respeito.

Cerca de 47% da população mundial, na China, na Índia e em outros países, depende, para a sua agricultura, seu abastecimento de água e, portanto, para a sua sobrevivência, da bacia hidrográfica (Indo, Bramaputra, Yangtsé, Rio Amarelo, Saluen, Mekong) delimitada pelo planalto tibetano. As consequências da secagem destes grandes rios serão desastrosas.

Respeitar e preservar os recursos

No norte da Índia, no Nepal e no Tibete, em nosso humilde nível, a associação Karuna-Shechen desenvolve projetos que respondem às necessidades vitais de indivíduos e localidades muito frágeis, ao mesmo tempo em que age com vistas ao longo prazo.

Nossa abordagem de desenvolvimento rural trabalha não só em prol da educação e da participação ativa de todos os habitantes, mas também a favor da preservação e de uma gestão sustentável dos recursos naturais locais.

Levamos a eletricidade solar a localidades isoladas do Nepal, onde também estimulamos a agroecologia e a produção de alimentos orgânicos, mais sustentáveis para o meio ambiente local.

Implementamos programas de coleta de água pluvial, a fim de evitar o esgotamento dos lençóis freáticos pela perfuração de poços muito profundos, que acabam secando os poços e nascentes naturais.

Nas províncias indianas de Bihar e Jharkhand, nossos participantes plantam mais de 20.000 hortas por ano, a fim de suprir suas necessidades e também de conter o aumento das monoculturas, que empobrecem a qualidade do solo e reduzem consideravelmente a biodiversidade.

Da mesma forma, nos empenhamos na formação de mulheres como motoristas de táxi-rickshaw elétricos, encorajando sua autonomia econômica e também estimulando um meio de transporte ecológico.

Por fim, distribuímos dezenas de milhares de sacos de tela de juta para lutar contra a poluição das sacolas plásticas, que são uma verdadeira calamidade na Índia.

Isso tudo é apenas uma gota de água no oceano. Mas, se todos nós nos esforçarmos na direção correta, seremos efetivamente capazes de construir um mundo melhor.

Fonte: Texto retirado do blog pessoal de Matthieu Ricard. 

Revista Ecos da Paz

Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.

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