Segundo o IBGE, o Brasil tem 11,3 milhões de pessoas maiores de 15 anos que não sabem ler ou escrever, uma taxa de analfabetismo de 6,8%.
No meio rural a situação ainda é mais grave, pois os investimentos são menores que nas cidades e há uma grande evasão escolar porque os jovens se sentem desmotivados e também preferem trabalhar para ajudar a família.
Para combater este problema da evasão, jovens do sertão cearense lançaram o projeto “Células Motivadoras”. Nada como pegar um problemão e dividir em muitas partes, em pequenos grupos.
A iniciativa partiu duas estudantes do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Adrião do Vale Nuvens, em Santana do Cariri, no sertão do Ceará. Maria Alicy e Liliane chegaram à nova escola e notaram que evasão e falta de motivação entre os alunos eram um problema sério. Elas decidiram pesquisar sobre o tema e transformar o trabalho em um projeto para a feira de ciências.
Durante a pesquisa elas descobriram que em 2018, 36,5% dos brasileiros de 19 anos não haviam concluído o ensino médio, idade considerada ideal para esta etapa de ensino. Entre eles, 62% não frequentam mais a escola e 55% pararam de estudar ainda no ensino fundamental, segundo dados do movimento Todos pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Muito além das estatísticas
Maria Alicy e Liliane descobriram que a evasão também afeta as outras regiões do país e se depararam também com outros problemas: os meninos deixam de estudar para trabalhar e ajudar no sustento da família, as meninas largam os estudos por causa da gravidez precoce, o transporte escolar é escasso e a falta de perspectivas de um futuro melhor numa cidade esquecida pelo Estado.
Além disso, a baixa autoestima: “Alguns têm medo do fracasso, dizem que não têm força de vontade de estudar, porque acham que não vão conseguir nada com aquilo”, explica Maria Alicy.
Problema diagnosticado, partiu para ação!
As meninas tiveram a ideia de monitorar a frequência dos alunos e intervir antes que o limite de faltas fosse atingido e o aluno tivesse que abandonar a escola.
O projeto tem 19 alunos que se dividem em três grupos e cada um responsável por uma das três séries do colégio. Foi criado também um aplicativo que dá acesso ao sistema escolar do estado, tem fotos do projeto, contatos dos membros das células motivadoras e um campo para sugestões.
Ao invés de um bilhete azul, uma carta quente
Estes “vigilantes de faltas” fazem rodas de conversa com os alunos da escola e reforçam a importância de estudar. Eles também observam o comportamento dos colegas e quando alguém começa a faltar demais o “alarme” toca.
Nesta hora, o grupo escreve cartas pros faltosos incentivando a voltar pra escola, é a “carta quente” e se isso não resolver, o monitor e um professor vão até a casa do aluno pra conversar.
Mas nem sempre o resultado é positivo. Há casos em que o aluno não tem condição de frequentar as aulas porque precisa ajudar a família e não tem condição de assistir às aulas no turno da noite.
Mesmo assim, o projeto apresenta provas de que é um sucesso. Em 2017, 79 alunos abandonaram o colégio; em 2018 o número caiu para 59 e em 2019 apenas 13. E as “Células Motivadoras” ultrapassaram as barreiras do sertão.
Maria Alicy, Liliane e Joana, a mais nova integrante que ajuda na coordenação do projeto, irão com o professor de história e orientador Moaci Caetano Freires Junior a Roma participar da Conferência Global “Eu Posso”. Ela vão trocar experiências junto com outros 3 mil estudantes que assumem o papel de protagonistas do cenário da educação global.
Leia a reportagem na íntegra que mostra outras experiências de sucesso no Brasil na área de educação.
Fonte: BBC Brasil