Segundo o professor e psicólogo Paulo Navasconi, para solucionar esta questão é preciso, principalmente, falar sobre projeto de vida. “Penso que nas estratégias mais práticas precisamos de ações nas escolas, nos programas de saúde e monitoramento da efetivação das ações”, defende.
Autor do livro “Vida, Adoecimento e Suicídio”, que aborda a negligência da literatura científica quanto à interseccionalidade dos marcadores de raça, classe e gênero, e os efeitos político-científicos desse silenciamento. Em 2016, segundo o Ministério da Saúde, o risco de um jovem negro de se matar subiu para 45%
A cada dez jovens (de 10 a 29 anos) que cometem suicídio, seis são autodeclarados negros. O levantamento, do Ministério da Saúde, revela não somente uma disparidade racial, como também a necessidade de políticas públicas mais eficientes para a população negra e indígena.
O suicídio é a quarta principal causa entre jovens no Brasil. De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, entre 2015/2016 foram registrados 804 mil óbitos por ano no mundo causados por suicídio, sendo 2.200 por dia. No Brasil, 32 óbitos por dia, o que coloca o país em oitavo lugar no ranking mundial, em números absolutos.
Desconstruindo mitos
Muitos jovens não querem falar no assunto, até mesmo quando estão em atendimento psicológico. Além disso, a própria família não leva as angústias dos adolescentes a sério. O bordão: “Deixa de frescura!” é uma constante.
Para Fernanda Marquetti, professora do curso de Ciências da Saúde da Unifesp é necessário tratar das questões no entorno dos adolescentes, como por exemplo, o bullying no ambiente escolar.
Segundo a OMS os grupos mais vulneráveis são: indígenas, LGBTs, jovens grávidas e imigrantes. O que eles têm em comum? Serem alvos de preconceito. Os índios têm uma taxa alarmante de 45% de morte por suicídio.
A psicóloga Karina Fukumitsu , psicóloga especialista no assunto, elogia a política nacional de prevenção que foi aprovada neste ano de 2019. Nela, a notificação dos casos de suicídio e automutilação, que já era prevista em portarias, agora é lei. Segundo a psicóloga, a política é positiva por trazer a tona este assunto, mas alerta para o fato que os agentes de saúde e de educação devem ser treinados.
Existem alguns mitos que, segundo os especialistas, precisam ser desconstruindo como: o fato de não falar sobre o assunto achando que poderá induzir a pessoa a cometer suicídio, É justamente o contrário, a pessoa precisa ser acolhida.
Muitas famílias acham que é manipulação. Não se deve generalizar, as pessoas podem dar sinais verbais ou não. Jamais desconsidere este risco. As pessoas que pensam em suicídio, não querem morrer propriamente, mas sim acabar com a dor que carregam e muitas vezes não sabem explicar.
A ideia de suicídio não é permanente. Pessoas que tentaram suicídio podem viver uma vida longa.
Projeto de vida
90% das pessoas que se suicidam tinham transtornos mentais e que poderiam ter se tratado. “Se os negros não são mortos pela mão do estado, são mortos na mão de uma sociedade deliberadamente racista. O racismo estrutural é um determinante de saúde e direitos.”, afirma Paulo Navasconi.
Pesquisas recentes vêm apontando que o suicídio é uma prática multifatorial, isto é, acontece por questões econômicas, por falta de perspectivas diante da vida, questões sociais, biológicas e culturais. “Por que não enxergamos a raça como um determinante de saúde? O racismo afirma e reafirma que corpos negros são inferiores, feios e incapazes. É como aquela frase ‘eu me faço a partir do olhar do outro’, de que modo esse outro me olha?”, questiona Navasconi.
Algumas dicas que ajudam na prevenção: não deixe a pessoa sozinha; tire-a de perto de objetos cortantes, inflamáveis, drogas, ligue para o CVV, leve-a para um especialista.
O telefone do CVV é 188 e também dá apoio pela internet no site www.cvv.org.br, email, chat e por skype 24 por dia.
Fonte: Folha de São Paulo e Carta Capital
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