Problemas são uma constante na vida. Quando você resolve seus problemas de saúde frequentando uma academia, está criando novos problemas, como ter que acordar cedo para não se atrasar, passar meia hora suando que nem um porco na esteira, depois ter que tomar banho antes do trabalho para não empestear o escritório inteiro com o seu fedor.
Quando você resolve o problema de não passar tempo suficiente com seu parceiro, decidindo que vão sair juntos toda quarta-feira, está gerando novos problemas, como pensar em algo que os dois não odeiem para fazer toda quarta, conferir se têm dinheiro para ir a bons restaurantes, redescobrir a química e a chama que sentem ter perdido e desvendar a logística de transar em uma banheira minúscula com espuma demais.
Os problemas nunca acabam; eles apenas são substituídos e/ou atualizados. A felicidade está em resolver problemas. Repare que a palavra-chave é “resolver”. Se você evita os problemas ou acha que não tem nenhum, está no caminho da infelicidade.
Se acha que não consegue resolver seus problemas, estará no mesmo caminho. O segredo está em resolver os problemas, e não em não ter problemas.
Para ser feliz, é preciso ter algo para resolver. Assim, a felicidade é uma forma de ação; é uma atividade, não algo que você recebe de forma passiva, que descobre magicamente numa lista do Buzzfeed ou com algum guru.
Ela não surge quando você finalmente ganha o suficiente para construir mais um cômodo na sua casa. Ela não está esperando por você em algum lugar, alguma ideia, algum emprego… nem num livro, aliás.
Felicidade é um exercício constante, porque resolver problemas é um exercício constante — as soluções para os problemas de hoje serão a base dos problemas de amanhã, e assim por diante. A verdadeira felicidade só se dá quando você descobre quais problemas gosta de ter e de resolver.
Às vezes são problemas simples: comer bem, viajar, zerar o jogo que você acabou de comprar. Outras vezes, porém, são problemas abstratos e complexos: manter um bom relacionamento com sua mãe, encontrar uma carreira em que se sinta confortável, criar um círculo de amigos fiéis.
Sejam quais forem seus problemas, o conceito é o mesmo: resolva-os e seja feliz. Infelizmente, para muitas pessoas a vida não é tão simples assim. Isso porque elas estragam tudo fazendo alguma destas merdas:
1. Negação. Algumas pessoas negam que os problemas sequer existam. E, como negam a realidade, precisam se iludir e se alienar o tempo todo. Isso pode fazê-las se sentir bem a curto prazo, mas leva a uma vida de insegurança, neurose e repressão emocional.
2. Vitimização. Há quem prefira acreditar que nada pode fazer para resolver seus problemas. As vítimas tentam culpar os outros ou circunstâncias externas. Isso pode fazê-las se sentir melhor a curto prazo, mas leva a uma vida de raiva, desamparo e desespero.
As pessoas negam e culpam os outros pelos próprios problemas simplesmente porque é fácil e provoca alívio, enquanto resolvê-los é difícil e muitas vezes gera sofrimento.
Culpa e negação dão barato. São uma fuga temporária dos problemas, o que proporciona uma sensação passageira de melhora.
Há diversas formas de obter euforia. Seja pela ingestão de substâncias como o álcool, seja pela sensação de altivez moral ao culpar os outros ou pela emoção de uma aventura arriscada, basear a vida em picos de euforia é superficial e improdutivo.
Grande parte do mercado da autoajuda se sustenta em vender euforia em vez de ensinar as pessoas a resolver problemas legítimos.
Muitos gurus ensinam novas formas de negação e enchem o público de exercícios que causam bem-estar a curto prazo, mas que ignoram a raiz do problema. Lembre-se: nenhuma pessoa feliz de verdade tem necessidade de ficar diante de um espelho repetindo para si mesma que é feliz.
Outro problema da euforia é que ela vicia. Quanto mais dependemos dela para sentirmos uma melhora em nossos problemas ocultos, mais recorremos a tal recurso. Assim, quase tudo pode se tornar um vício, dependendo do motivo pelo qual é usado.
Todos temos nossos métodos preferidos para entorpecer a dor causada pelos problemas, e não há nada de errado nisso, desde que sejam usados em doses moderadas. Quanto mais evitamos e mais nos entorpecemos, mais doloroso será quando finalmente confrontarmos nossos problemas.
Mark Manson, crônica ‘A felicidade é resolver problema’, do livro ‘A Sutil Arte de Ligar o Foda-se” (The Subtle Art of Not Giving a Fuck). Tradução Joana Faro – Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2017.