De acordo com o censo demográfico do IBGE, mais da metade da população constitui-se de negros e pardos.
Contudo, o país está muito longe de ser uma democracia racial. E para diminuir o preconceito sobre esta parcela da população, a literatura infantil e o cinema tem sido grandes aliados, principalmente no resgate da autoestima.
É um trabalho que deve ser constante e que não pode se limitar à datas comemorativas.
Falar com os pequenos sobre representatividade, identidade, a história e o papel dos seus ancestrais na sociedade tem se tornado cada vez mais importante.
E para discutir um tema tão polêmico e ao mesmo tempo delicado nada como o lúdico que nos envolve e nos faz refletir. Aí vão as dicas:
Com uma pegada bem lúdica, este livro retrata o imaginário de três meninas, Mariana, Dandara e Luanda, sobre as paisagens dos países africanos. O livro relaciona a identidade das meninas com sua ancestralidade.
“Menina Bonita do Laço de Fita” de Ana Maria Machado
Um clássico da literatura infantil ilustrado por Claudius. O livro teve sua primeira publicação em 1986 e até hoje é muito usado para atividades pedagógicas de conscientização racial.
A autora conta a história de um coelhinho bem branquinho que faz de tudo para ficar pretinho como aquela menina do laço de fita que ele acha linda. Depois de várias tentativas e frustrações, a mãe da menina explica ao coelho que ele não conseguirá mudar sua cor. Porém, o coelho conhece uma coelha bem pretinha, por quem ele se apaixona. Eles têm vários filhotinhos, inclusive uma coelhinha pretinha!
“O cabelo de Lelê” de Valéria Belém
O livro conta a história de uma menina que não aceita o seu cabelo crespo. Até que encontra um livro sobre países africanos e se vê representada em outras meninas de cabelo igualmente crespo.
Ao descobrir sua herança étnica, a personagem Lelê passa a se aceitar e a usar novos penteados, igual aos das meninas que viu no livro.
O livro celebra a miscigenação do povo brasileiro e as diferentes cores de pele que surgiram com isso.
Na história, uma menina procura cores na natureza que parecem com a sua e percebe a vantagem da riqueza das diferentes cores, inclusive a sua!
“Um colo para Aiazinha” de Salizete Soares
O livro se passa na época da escravidão e conta sobre uma escrava que era babá da criança – apelidada de Aiazinha – da casa em que servia.
A história mostra a relação das duas, gerando reflexões sobre a cultura africana e sobre a troca entre a criança e sua babá.
“A cor de Coraline”, de Alexandre Rampazo
Finalista do prêmio Jabuti em 2018, o livro traz a história de Coraline, que ouve de seu colega Pedrinho uma pergunta difícil: me empresta o lápis cor de pele?
Assim, começam as indagações da menina sobre qual seria a cor da pele.
Além da cor negra, uma boa reflexão que o livro traz é sobre as outras possibilidades de representação das mais diferentes etnias.
“Flávia e o Bolo de Chocolate” de Miriam Leitão
A jornalista de economia Míriam Leitão passa em meio às questões da personagem Flávia e sobre a sua pele negra, tão diferente da cor da pele de sua mãe.
A história aborda temas delicados como adoção e questões raciais de forma sensível e lúdica para os pequenos.
A obra tem uma edição cuidadosa com ilustrações de Bruna Assis Brasil e o livro rendeu à Míriam o Prêmio FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil) em 2014 na categoria Escritor Revelação.
A menina Bintou sonha em ter tranças iguais a de sua irmã mais velha, entretanto pelo costume do seu povo, ela não pode.
Inconformada, Bintou pergunta o motivo pelo qual não pode usar tranças.
A partir daí, o livro apresenta os costumes, tradições e paisagens de origem africana. Uma oportunidade de aprender mais sobre a história deste continente.
“Bruna e a Galinha da Angola” de Gercilga d’ Almeida
O conto é baseado em uma lenda africana que usa o símbolo da galinha da Angola para contar a história de como a Terra foi criada.
Uma ótima oportunidade para trabalhar a ancestralidade, a importância de respeitar as tradições, as diferenças e a cultura do continente africano.
“O Amigo do Rei” de Ruth Rocha
O livro retrata a inclusão em um momento da nossa história em que não havia este conceito: a época da escravidão.
Um menino que se tornaria rei e um menino nascido escravo vivem uma amizade e mostram como as diferenças raciais são construídas com o tempo pela sociedade que vivem.
A música escrita pelo rapper Emicida virou livro e a obra – que conta com uma versão animada – reproduz um diálogo que o artista teve com sua primeira filha.
A pequena está olhando uma amoreira com o pai, quando ele fala sobre a beleza das amoras. A partir disso, a menina se reconhece e assimila sua própria identidade.
Animações para rir e se emocionar
Aqui vai a dica de dois curtas muito especiais que tratam brilhantemente sobre identidade e aceitação. Aperte o play e divirta-se!
Imagine uma menina com cabelo de Brasil
Este curta de Alexandre Bersot mostra o valor dado a aparência do cabelo, que se torna uma espécie de questão de honra.
Entre inúmeras caretas, malabarismos com escovas, no final todos buscam uma coisa: a aceitação.
O filme foi premiado com o segundo lugar no festival Anima Mundi de 2010 na categoria júri popular e melhor animação no Vitória Cine Vídeo também de 2010, além de outros prêmio pelo Brasil. Ele pode ser assistido na plataforma Porta Curtas ou no Youtube.
Hair Love
É uma animação produzida pela Sony Pictures Animations que viralizou na redes sociais e pode ser assistido no Youtube.
O curta mostra a aventura de um pai em fazer um lindo penteado na sua filha, pois ambos têm um compromisso muito importante.
“Hair Love” teve mais de 3 milhões de visualizações no twitter e youtube e ainda levou o Oscar 2020 na categoria melhor curta de animação.
Segundo o diretor Matthew A. Cherry, a proposta do filme era quebrar os estereótipos aos quais os jovens pais negros estão submetidos.
Fonte: Estante Mágica, Pais e Filhos
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