Quando escutei pela primeira vez a frase: “minha vida não está na mão de nenhum governo ou político” senti um certo desconforto. Achar que não deveríamos nos abalar pelo cenário externo é pura brincadeira de mau gosto, porque abala e muito.
Independentemente do que seja: uma crise financeira, o fim de um relacionamento, mortes, o cenário externo colabora bastante com o caos interno. Contudo, podemos decidir a profundidade deste estrago em nossa mente, no corpo e até na nossa alma.
Num primeiro momento, cara a cara com a “monstra” da crise vem o desânimo e a situação piora quando o cenário político e econômico se apresenta sem perspectivas. Raiva, culpa, ansiedade e auto-cobranças acabam engrossando o caldo. O que fazer quando se sente atolada (o) num pântano sem saber pra onde ir? Num primeiro momento, é melhor não fazer nada. Se permita sentir e observar o caos que te cerca, se dê uma pausa, apenas não demore para agir.
Os orientais enxergam a crise como oportunidade. Nesta hora entram em cena os coaches e membros da “indústria do espírito” que costumam tirar o “s” da palavra crise e o powerpoint dá um grande destaque à palavra Crie. Na maré dos desesperados há quem se deslumbre com as palestras-shows e meditações milagrosas que tem um objetivo: aquecer um grande mercado. Separar o joio do trigo é fundamental pra não perder o pouco do equilíbrio que resta.
Como a história é cíclica, o que vivemos hoje com a internet ditando o ritmo de nossas vidas, em que tudo é rápido e efêmero, isto não deixa de ser uma repetição do cenário dos loucos anos 20 (no século passado) que exaltava a máquina, a tecnologia, a velocidade, mas esta geração pós-primeira guerra mundial e da crise de 1929 se reinventou e se eternizou na literatura, na pintura, na música. Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Villa-Lobos e Drummond são verdadeiros clássicos. E nós, o que temos construído?
Como diria Chico Science “posso sair daqui pra me organizar, posso sair daqui pra desorganizar.” Desorganizar, se reestruturar e avançar mesmo sabendo que uma parte da nossa sociedade coloca imensas pedras no caminho do homem comum.
Quando se fala para “não vivermos a crise”, não é se alienar, é apenas não sucumbir. E nesta de não sucumbir, vemos as pessoas fazendo de tudo pra sobreviver, e acabam vivendo num limbo do mercado de trabalho, como exemplo os entregadores de comida por aplicativo. Eles não têm direitos e garantias de nada, mas é o que lhes resta.
A palavra resiliência tem sido usada à exaustão, mas está mais difícil sermos resilientes, mantermos a paciência e o otimismo quando vemos as instituições, o poder público serem geridos pela burrice, retrocesso e desumanidade.
Mas como a alma do brasileiro atesta momentos de arroubos, fica a dica de Chico Science: “Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça, mas posso sair daqui pra me organizar . Posso sair daqui pra desorganizar ”
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