Fala-se sobre o conceito de bioética desde 1927, mas somente a partir de 1970 que ela ganhou o status de ciência pelas mãos do oncologista americano Van Rensselaer Potter.
Esta ciência chegou com a proposta de ser o elo de ligação entre as ciências empíricas e as ciências humanas, em especial a ética.
Voltando no tempo, foi na Grécia antiga que surgiram os primeiros pensadores, assim como uma tentativa de sistematização do conhecimento para explicar o mundo.
A filosofia englobava a ciência e as artes. E a partir do século XIX, mesmo tendo brotado da filosofia, a nova ciência empírica buscou um outro rumo longe das ciências humanas.
Se por um lado a dicotomia entre o saber empírico e o saber reflexivo trouxe uma legitimidade para as ciências empíricas: exatas e biológicas, por outro elas
perderam a capacidade de percepção e de auto-crítica e auto-reflexão.
Contudo, a partir da década de 70, uma época marcada por protesto contra guerras, nascimento de uma consciência ecológica e críticas ao capitalismo inconsequente e predatório, a bioética surge para expressar esta nova ciência, que tem como finalidade a preservação da vida no planeta, já que o desenvolvimento científico sem sabedoria, sem uma reflexão e auto-crítica poderia por em risco a própria vida na terra, acabar com nossa existência.
As aplicações concretas da bioética
Van R. Potter disse que “a sabedoria é uma guia para a ação e não meramente a ‘posse’ do conhecimento. Ela deve uma bússola para guiar e orientar as políticas públicas na obtenção do bem social.”
Esta ciência é dialógica e transdisciplinar, respeitando a pluralidade. O diálogo e a tolerância são ingredientes fundamentais no processo de construção deste
saber.
Este ponto é absolutamente importante, já que os grandes problemas que o ser humano enfrenta nas mais diversas áreas de conhecimento devem ser vistos e analisados a partir desses diversos campos, buscando uma convergência da relação ética de todos os saberes em torno do cuidado da vida.
Aqui no Brasil existem comitês de bioética clínica e/ou hospitalar desde 1960 cuja função é orientar e ajudar a decidir sobre o tratamento dos pacientes, em especial quando há riscos de vida, afirma o professor Lino Batista da PUC-PR.
Batista começou a ser um estudioso do assunto em 2006, graças à um doutorado
em Roma, cuja pesquisa foi: “O conceito de alteridade como mediação na relação entre médico e paciente”.
Ainda na área médica, um dos efeitos da bioética é o crescimento da medicina paliativa, que está se tornando uma política pública.
No final de 2018 foi dado um grande passo na história dos Cuidados Paliativos do Brasil com a aprovação, na 8ª Reunião Ordinária da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), da resolução nº 41, de 31 de outubro de 2018, que dispõe sobre as “Diretrizes para a organização dos cuidados paliativos, à luz dos cuidados continuados integrados, no âmbito Sistema Único de Saúde (SUS).
Com relação às empresas, o professor Lino destaca que a bioética está inserida no mundo corporativo, a partir do momento que vemos o setor de responsabilidade social das empresas adquirirem importância, a ponto de balizar a reputação da mesma diante de seus clientes e/ou consumidores.
Ter uma postura socialmente responsável, contribuindo para uma sociedade mais justa, garante a sua sobrevivência no mercado.
Em um mundo polarizado, o fazer da bioética terá que percorrer um bom caminho.
Fazer bioética é saber respeitar a diversidade das doutrinas morais, as tradições, concepções sobre a vida e o pluralismo cultural, logo, a bioética é também um espaço privilegiado de diálogo e promoção dos Direitos Humanos.
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