Desde 1992, quando a cidade do Rio de Janeiro sediou a Eco-92, um encontro com líderes mundiais para discutir as políticas públicas para preservar o meio-ambiente, a Baía de Guanabara recebeu atenção especial do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para implementar um programa de despoluição.
Na época foi acordado o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), assinado em julho de 1991 que previa a cooperação técnica entre os governos brasileiro e japonês, pois este programa teve como exemplo a Baía de Tóquio.
Além do BID, o PDBG teve também o investimento do Japan Bank for Internacional Cooperation (JBIC). Em quase 20 anos de vigência foram consumidos US$ 800 milhões do total de US$ 1,169 bilhão previstos, mas o programa teve pouca efetividade.
A cada governador eleito no estado do Rio de Janeiro, este programa de despoluição pouco avançou, mesmo depois das críticas sobre a qualidade da água e do lixo na baía durante preparação das Olimpíadas de 2016.
Estações de tratamento de esgoto foram construídas, mas não funcionam adequadamente porque não recebem a quantidade de esgoto suficiente. Grande parte é escoada diretamente nos rios que desembocam na baía.
Indústrias ao redor da baía
Um dos mais belos cartões postais da cidade do Rio de Janeiro, a Baía de Guanabara está cada vez mais longe do cenário ideal porque 70% das indústrias do estado estão ao seu redor, e estas por sua vez não tratam devidamente os resíduos que produzem.
Um estudo de cooperação mútua com a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) analisou sedimentos e microrganismos em cinco pontos distintos da baía.
O resultado foi publicado na revista científica “Marine pollution bulletin” e revelou que a atividade portuária, além do esgoto urbano, é uma grande fonte de contaminação. A presença dos metais como: chumbo, zinco, cobre e cromo representa grande ameaça à vida marinha. E o perigo pode ter consequências para a saúde humana também, pois existe atividade pesqueira na baía.
Os resultados de análises de amostras coletadas perto dos portos do Rio e de Niterói são alarmantes. Na capital, a concentração de chumbo é 3,6 vezes maior que o nível considerado seguro para o ecossistema. O zinco, apesar de essencial aos organismos, apareceu em quantidade quatro vezes superior ao limite estipulado nos guias de qualidade.
O descaso vai além da questão ambiental causando prejuízos também na saúde, transporte e turismo no valor de 50 bilhões ao ano, de acordo com os estudos na ONG Baía Viva.
Quando o assunto é fiscalização, tanto os órgãos competentes pelo monitoramento da água como os causadores dos impactos ambientais dizem cumprir a parte que lhe cabe, mas as águas da baía continuam a refletir justamente o contrário.
Fonte: O Globo, Agência Pública