Ele é o maior escritor brasileiro que viveu grandes momentos da nossa história: a abolição da escravatura e a proclamação da república e sua obra é um registro da transformação da sociedade.
De família pobre, ele mal frequentou as escolas públicas e tão pouco foi à faculdade, contudo frequentava as bibliotecas e tinha aulas de francês e latim com um padre amigo. Ele se abasteceu da intelectualidade e cultura da capital, a cidade do Rio de Janeiro.
Isto lhe permitiu conquistar cargos públicos e sua notoriedade abriu as portas dos jornais da época onde publicou suas primeiras crônicas e poesias.
Sua obra consiste em dez romances, duzentos contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas.
Escritor de vários estilos, Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1881.
Ele foi um grande observador do seu tempo, que teve grande importância para escolas literárias do século XIX e XX, influenciou nomes como Olavo Bilac, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade e também os estrangeiros John Barth e Donald Barthelme.
A sua fama e o prestígio correu mundo e é tido como um dos grandes gênios da história da literatura. Neste panteão, seu nome está ao lado de Dante, Shakespeare e Camões.
Frases imortais do Bruxo do Cosme Velho
Reza a lenda que ele queimava suas cartas num caldeirão e a vizinhança viu e gritou: “Olha o Bruxo do Cosme Velho! Machado acabou dando fama ao bairro.
Machado de Assis tinha um humor irônico e refinado e as frases de suas obras ultrapassaram os limites da borda da capa e entraram na vida corriqueira de seus leitores. Então vamos à elas
“A abolição é a aurora da liberdade; emancipado o preto, resta emancipar o branco.” Em “Esaú e Jacó” (1904)
“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis…” Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881)
“Um dos defeitos mais gerais, entre nós, é achar sério o que é ridículo, e ridículo o que é sério, pois o tato para acertar nestas coisas é também uma virtude do povo.” Em “Ao Acaso” (28 de março 1865)
“O casamento é a pior ou a melhor coisa do mundo; pura questão de temperamento.” Em “Helena” (1876)
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881)
“A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.” Em “O Alienista” (1882)
“O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso.” Em “Helena” (1876)
“Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é idéia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética.” Em “Histórias de 15 Dias” (1º de abril de 1877)
“Purgatório é uma casa de penhores, que empresta sobre todas as virtudes, a juro alto e prazo curto.” Em “Dom Casmurro” (1899)
“Não confunda o romance com a vida, ou viverá desgraçada.” Em “Ponto de vista”, em “Histórias da Meia-Noite” (1873)
“Não se comenta Shakespeare, admira-se.” Em “Revista dos Teatros”, crítica teatral, (12 de novembro de 1859)
“–Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.” Em “Ressurreição” (1872)
“Eu sei que vossa excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada mais delicado que a verdade.” Em “Linha Reta e Linha Curva”, “Contos Fluminenses” (1870)
Confeitarias, seu local predileto
“Nas manhãs de um sábado, 25 de abril, andava tudo em alvoroço na casa de José Lemos. Preparava-se o aparelho de jantar dos dias de festa, lavavam-se as escadas e os corredores, enchiam-se os leitões e os perus para serem assados no forno da padaria de frente, tudo em movimento; alguma coisa ia acontecer nesse dia”. As Bodas de Dr. Duarte
Machado de Assis apreciava a boa mesa e era chegado a doces.
Em 1894 ele publicou na Gazeta de Notícias: “A vida, por exemplo, comparada a um banquete é ideia felicíssima. Cada um de nós tem ali o seu lugar; uns retiram-se logo depois da sopa, outros do coup du milieu, não raros vão até a sobremesa…”
Ele adorava tomar chá nas confeitarias tradicionais que eram frequentadas também por políticos e literatos. Nessa época, essas casas eram o templo do luxo no Rio de Janeiro.
No cardápio, os doces portugueses conviviam lado a lado com os franceses, mas ele tinha severas críticas sobre o uso exagerado do idioma francês no menu e como a culinária deste país ditava a vida da elite brasileira.
Do Segundo Reinado a República Velha, os cardápios eram em francês sem tradução.
Por ser tão afeito à confeitaria, ele fez questão de publicar no Cruzeiro com um ano de antecedência, o lançamento do livro “O confeiteiro popular” de Francisco Queiroz.
“É fora de dúvida que a literatura ‘confeitológica’ sentia necessidade de mais um livro em que fossem compendiadas as novíssimas fórmulas inventadas pelo engenho humano para o fim de adoçar as amarguras deste vale de lágrimas.”
Como Machado considerava a vida um banquete, então vamos logo à sobremesa. Aqui vai uma receita de Mãe-benta retirada do livro “Machado de Assis – Relíquias culinárias” de Rosa Belluzzo.
Mãe-benta
Ingredientes
125g de manteiga
125g de açúcar
3 ovos
125g de farinha de arroz
50ml de leite de coco
Modo de fazer
Preaqueça o forno a 180º C. Na batedeira, bata a manteiga com o açúcar, acrescente as gemas uma a uma e continue batendo até a massa ficar esbranquiçada. Desligue a batedeira e acrescente a farinha de arroz, alternando com o leite de coco, e misture com uma colher de pau. Bata as claras em neve e junte-as à massa, misturando delicadamente.
Coloque as forminhas de papel dentro das formas de empada para que não percam o formato ao assar. Despeje a massa deixando cerca de 1 centímetro de borda. Leve ao forno para assar de 30 a 40 minutos, ou até que estejam douradas.
Fonte: IG, Folha de São Paulo