O tratamento com plantas medicinais vai além do uso de folhas, flores e raízes.
As cascas das árvores têm um grande poder curativo, que são usadas na preparação de tinturas, banhos, chás, resinas, gomas, óleos, essências, mel e substâncias medicinais para a fabricação de outros remédios.
Na maioria das vezes seu uso é aplicado para o tratamento de várias infecções causadas por bactérias, além de vermífugo, como a casca do abacateiro.
Muitos ignoram o cuidado que se deve ter na preparação de remédios com plantas medicinais. Pelo fato de ser um tratamento natural, não significa que se deva fazer uso sem o acompanhamento de um fitoterapeuta.
A cada pesquisa sobre nossas florestas evidencia-se o potencial econômico das árvores, que apesar disso, continuam sendo o alvo de setores econômicos que desprezam o manejo sustentável.
Abaixo, algumas árvores cujo tronco podem ajudar no tratamento de doenças bem corriqueiras.
Aroeira
Natural da América do Sul, é encontrada no Brasil em regiões quentes.
De nome científico Schinus terebinthifolius, a sua casca serve para tratar inflamação e dor de garganta, hemorragia e inflamação uterina, diarreia erisipela e outras doenças provocadas por bactérias e que se manifestam em forma de edema ou eritema.
Além das cascas, as folhas secas da aroeira são utilizadas contra febres, problemas do trato urinário, contra cistites, uretrites, diarreias, blenorragia, tosse e bronquite, problemas menstruais com excesso de sangramento, gripes e inflamações em geral.
Sua resina é indicada para o tratamento de reumatismo e ínguas, além de servir como purgativo e combater doenças respiratórias.
Emprega-se também contra a blenorragia (DST), bronquites, orquites crônicas e doenças das vias urinárias.
Seu óleo resina é usado externamente como cicatrizante e para dor-de-dente.
A resina amarelo-clara (a qual endurece ao ar tornando-se azulada e depois pardacenta), proveniente das lesões das cascas, é medicamento de larga aplicação entre os sertanejos, como tônico, nos casos em que usam cascas.
Em outros tempos, a aroeira foi utilizada pelos jesuítas que, com sua resina, preparavam o ” Bálsamo das Missões “, famoso no Brasil e no exterior.
Receitas da floresta
Gota, reumatismo e nervo ciático: Banho- ferver 26g de cascas de aroeira em um litro de água. Tomar, diariamente, um banho de 15 minutos, tão quente quanto possível. Um ensaio clínico feito com extrato aquoso das cascas de Schinus terebinthifolius na concentração de 10% aplicado na forma de compressas intravaginais em 100 mulheres portadoras de cervicite e cervicovaginites promoveu 100% de cura num período de uma a três semanas de tratamento.
Gargarejos, bochechos, compressas, tratamento tópico de ferimentos de pele ou mucosas, infectadas ou não, cervicite, hemorróidas inflamadas, gengivas inflamadas: Cozinhar em 1 litro de água, 100g da entrecasca limpa e seca da Aroeira, quebrada em pedaços pequenos.
Barbatimão
Esta árvore também é conhecida como ibatimó, nome dado pelos índios, casca da virgindade, casca da mocidade, nabatimó e paricarana.
Originária do cerrado, de regiões quentes e secas, ela cresce lentamente e pode atingir até 5 metros de altura.
Os índios descobriram que a sua casca servia para tingir tecidos de vermelho e que não podia comer os seus feijões porque “amarrava” a boca e a batizaram de ibatimó, que significa árvore que aperta, uma referência à propriedade adstringente.
A sua casca tem tanino que em contato com a pele diminui a secreção das regiões inflamadas se mostrando um excelente cicatrizante, ela age inclusive sobre as úlceras, protege o estômago e o fígado.
A Universidade Estadual de Maringá no Paraná testou os efeitos do barbatimão em 48 cobaias. Abriram um ferimento em cada uma delas. O primeiro grupo foi tratado com o extrato da erva e o segundo grupo com um cicatrizante alopático famoso na época.
O tempo normal para uma boa cicatrização é de 21 dias e o extrato da erva se mostrou muito mais eficaz que o remédio químico.
O barbatimão é muito eficaz no tratamento de corrimentos vaginais. Após ferver a casca na água, use esta água em banhos de assento ou coloque na ducha higiênica para lavagem interna.
Por conta da sua propriedade adstringente, o chá da casca diminui a oleosidade da pele e fecha os poros.
O extrato desta planta combate bactérias como Staphilococus aureus e a Pseudomonas aeroginosas que causam infecção hospitalar e que são bastante resistentes aos antibióticos.
O extrato do barbatimão só pode ser usado externamente e de preferência com acompanhamento médico e fique atento aos efeitos colaterais.
Existe uma espécie chamada Falso-barbatimão, a Cassia leptophylla, que é uma planta ornamental que não tem nenhum efeito curativo.
Receitas da floresta
Para a pele oleosa: Corte as cascas do barbatimão e separe 2 colheres de sopa. Coloque 1/2 litro de água e ferva estas cascas por 15 minutos com a panela tampada. Deixe amornar e coe.
Acrescente uma colher de sopa de mel e uma colher de sopa de suco de limão, misture bem e aplique sobre a pele com uma gaze à noite.
Se quiser usar este preparado pela manhã, lave o rosto com um sabonete neutro de glicerina ou de calêndula e NÃO COLOQUE LIMÃO neste composto, pois a fruta é ácida e deixará a pele manchada sob a luz do dia.
Para tratar corrimentos: Despeje 2 xícaras do chá de barbatimão (com a casca) em 2 litros de água. Ferva por 15 minutos e coe. Acrescente 1 colher de sopa de vinagre ou de suco de limão.
Faça as lavagens com este líquido em toda a região genital e seque com gaze.
Úlceras de estômago: Para cada copo de água, ferva 2 colheres de sopa da casca. Deixe esfriar e coe. Beba uma xícara de chá 3 vezes ao dia.
Aftas e saúde bucal: Ferva 20 gramas de barbatimão em 1 litro de água. Faça bochechos e gargarejos 4 vezes ao dia.
Para inflamação de garganta e diarreia: Coloque 2 colheres de sopa da casca do barbatimão picada em 1 xícara de álcool de cereais a 50 %. Este produto é encontrado em farmácias ou casa de essências.
Deixe descansar por 3 dias em um vidro escuro em ambiente escuro e depois coe. Tome 1 colher de café desta tintura diluída em um pouquinho de água de 2 a 3 vezes ao dia.
Cajueiro
Anacardium occidentale é brasileiríssimo, originário da região nordeste tem uma copa tortuosa e se apresenta em dois tamanhos: gigante, que é o mais comum atingindo de 5 a 12 metros e o anão.
Da casca do cajueiro se extrai produtos para a produção de cosméticos e medicamentos dermatológicos pois esta tem propriedades tônicas e adstringentes.
Ela também é usada para tratar diabetes, proteger o coração e reduzir os triglicérides. É um excelente antisséptico, bactericida e bastante efetivo para tratar cáries dentárias, mau hálito e inflamação de gengivas.
Outra propriedade do chá de casca de cajueiro tem a ver com seu efeito depurativo pois, é laxante e diurético.
Outro uso muito comum do chá de casca de cajueiro é na cicatrização de feridas externas (é preciso banhar o local com o chá, que atua limpando, renovando a pele e cicatrizando).
Tradicionalmente se usa chá de casca de cajueiro para tratar as lesões provocadas pela hanseníase. Além disso, ela é eficaz para limpeza de pele pois retira as células mortas, tonifica e fecha os poros.
Receitas da floresta
Escalda pés para circulação e cansaço: 5 colheres de sopa da casca do cajueiro e 5 colheres de sopa das folhas do ginko biloba e ferva em 2 litros de água por 10 minutos.
Coe e coloque numa bacia grande com pedras arredondadas ou bolinhas de gude no fundo. Complete com água morna.
Para consumir como chá ou para uso tópico: Ferver 1 litro de água com duas colheres de sopa de casca picada. Deixe ferver por 10 minutos. Abafe por outros 10 minutos. Recomenda-se tomar até 4 xícaras de chá ao dia.
Jatobazeiro
Uma árvore originária das florestas tropicais americanas e da Ásia e tem o nome científico de Hymenaea courbaril.
E seu fruto, o jatobá, é conhecido também como jutaí, copal, jataí. O chá da sua casca é chamado “vinho de jatobá”. Sua madeira junto com ipê, mogno, está no grupo das 10 mais valiosas e negociadas do mundo.
A casca é preparada por decocção ( fervida em água) e a resina é obtida por um corte no tronco e tem propriedade adstringente, que pode ser usada no peito.
Suas propriedades ajudam no tratamento de problemas respiratórios como asma, bronquite e rinite e gastrointestinais: úlceras, gastrites, azia e refluxo.
Para aqueles que têm problemas de bexiga e/ou próstata, o cozimento da casca ajuda no tratamento da cistite aguda ou crônica e cálculo renal.
O seu consumo regular estimula a eliminação de líquidos promovendo limpeza nos tratos urinário e renal. A eliminação do excesso de líquido resulta, claro, na perda de quilos extra mas, JAMAIS pode dizer que o jatobá emagreça.
Também é usado o chá da casca de jatobá em casos de blenorragia (DST), cólicas, fraqueza pulmonar, hemorragias, úlceras bucais, disenteria, escarro de sangue e dispepsia.
Do fruto do jatobá se comem as sementes, ricas em cálcio, fósforo, ferro, potássio, magnésio e vitamina C. A ingestão das sementes também podem ajudar nos tratamentos citados anteriormente, como coadjuvante do uso do chá de casca.
Receitas da floresta
Para bronquite: Misture a resina com o mel e tome uma colher de sobremesa de 2 em 2 horas.
Aliviando as dores: Aplique a resina em forma de emplastro.
Para tosse: Use a resina misturada com mel.
Para fazer o chá: Ferver 2 colheres de sopa de casca ralada em 1 litro de água, por 10 minutos, abafar e coar. Tomar até 2 xícaras ao dia.
Jucá
Esta árvore é abundante nas matas brasileiras e pode ser encontrada no estado de São Paulo até o Piauí. A Caesalpinia ferrea é conhecida também como pau-ferro devido a rigidez do seu tronco, como um ferro.
É muito usada como um anti-inflamatório para todo tipo de problema do sistema respiratório como bronquite e gripes. Ela abaixa a febre e é expectorante.
Também é usada para o tratamento da diabetes, pois ajuda a diminuir o volume de urina e a sede. Trata também do reumatismo, sífilis e também úlceras gástricas.
No norte do país costuma se usar o pó da casca de jucá para tratar dos males do fígado e estômago.
Muito conhecida por pajés e curandeiros, o jucá tem uma comprovação empírica dos seus resultados por séculos. Entretanto, desde 1990, a academia vem estudando esta planta, que gerou a publicação de centenas de artigos científicos como este aqui de 1995 publicado no Thieme Open e este outro de 2002 publicado no Science Direct, ambos em inglês.
Receitas da floresta
A indicação de uso é de 2 colheres de casca seca, picada, para cada litro de água. Cozinhar em fogo baixo, por 10 minutos a partir da fervura. Após esse tempo, apague o fogo, tampe a panela e deixe repousar por outros 10 minutos. Tome em seguida. Recomenda-se tomar de 2 a 3 xícaras do chá de casca de pau-ferro ao dia.
Prudência
Aqui vão dois links para conhecer melhor o poder das árvores e plantas: um é sobre uma horta de plantas medicinais da Embrapa e o outro é um “dicionário” de plantas do site Medicina Natural.
O uso das plantas medicinais é um resgate da sabedoria popular, deste conhecimento ancestral e a ciência têm se debruçado sobre o tema testando e descobrindo novas aplicações.
Fonte: Bons Fluídos, Green.me