Existem 12 tipos de leucemia que se dividem em duas categorias: agudas e crônicas. As crônicas se apresentam com sintomas leves e que vão se agravando gradativamente, as agudas se mostram mais agressivas e exigem um tratamento imediato. Quanto maior a idade, maior o risco de desenvolver as versões crônicas da leucemia mieloide e linfoide. As agudas, por sua vez, são as mais frequentes em crianças e adolescentes, embora também apareçam na vida adulta.
A leucemia é um câncer que atinge os glóbulos brancos do sangue e surge quando as células imaturas do sangue sofrem uma mutação ainda na medula óssea, onde são fabricadas, e passam a se multiplicar desenfreadamente, ocupando o lugar das células saudáveis.
A sua origem ainda é desconhecida. O que se sabe é que certos fatores podem aumentar o risco dela surgir. Entram na lista de causadores as substâncias químicas como o benzeno, formadeíldos e agrotóxicos, cigarro, exposição excessiva à radiação, além de algumas síndromes e doenças hereditárias.
Um levantamento feito pela Abrale ( Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia ) a partir de dados fornecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) constatou que no primeiro ano analisado,entre 2007 e 2016 foram 5 721 mortes e quase uma década depois, o número chegou a 7 061.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, a estimativa é de 10 800 novos casos ao ano. “Isso demonstra que ainda não temos políticas públicas eficazes para o diagnóstico precoce e acesso rápido ao tratamento”, comenta Merula Steagall, presidente da Abrale.
Sintomas e Diagnóstico
Como qualquer doença grave, se for detectada no início, há grandes chances de cura. E a descoberta precoce pode ser feita com um hemograma completo. Nele o médico verificará se há alterações em plaquetas, leucócitos e hemácias, que pedem uma avaliação mais pormenorizada. Se for confirmada a doença outros testes são solicitados para determinar qual é o tipo de leucemia a ser enfrentado. É o caso do mielograma, que colhe sangue diretamente da medula óssea, de exames genéticos e da biópsia de uma parte da medula.
Febre ou suores noturnos, anemia, cansaço extremo, sangramentos na gengiva ou nariz, infecções recorrentes, perda de peso sem motivo aparente, desconforto abdominal provocado pelo aumento do tamanho do baço, manchas roxas pelo corpo, dor nos ossos e nas articulações, nódulos inchados na região do pescoço, virilha e axila. A princípio esta lista pode parecer de sintomas bem genéricos, contudo, vale a visita ao médico em caso deles persistirem com o tempo.
Tratamento e pesquisas
As leucemias agudas precisam que o paciente esteja internado fazendo quimioterapia e sendo monitorado por causa das infecções que costumam surgir por causa das alterações no sangue. E mesmo quando os exames indicam o desaparecimento da enfermidade, sessões adicionais de químio são comums para eliminar quaisquer células cancerosas que possam estar circulando pelo corpo.
As crônicas têm uma abordagem um pouco diferente. A mieloide crônica em geral é tratada com um comprimido que inibe a ação de uma proteína por trás da multiplicação celular que desencadeia a doença. A linfoide crônica pode ser combatida com quimioterapia, mas, dependendo do estado do paciente, o médico pode optar por outras terapias, como remédios orais e anticorpos monoclonais, que são produzidos em laboratórios a partir de um único clone de um único linfócito B parental, que é clonado e imortalizado.
O transplante de medula óssea é outra opção tanto para as leucemias agudas quanto para as crônicas. Contudo, só é indicado em situações específicas – como quando o paciente não responde bem ao tratamento convencional.
Tatiana Brasil, Stephanie Bath de Morais e Nilson Zanchin são pesquisadores do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz) em Curitiba e desenvolveram uma molécula que pode reinventar o tratamento contra alguns tipos de câncer, sobretudo a Leucemia Linfóide Aguda (LLA). A doença atinge principalmente crianças e adolescentes. Os pesquisadores modificaram em laboratório a chamada “asparaginase humana”, uma enzima capaz de controlar a asparagina — aminoácido presente no corpo humano que contribui para desenvolvimento de células cancerígenas.
Segundo Tatiana, o uso da asparagina extraída de bactérias provoca fortes efeitos colaterais. Com a asparaginase de origem humana, não existe essa rejeição. “O que queremos com a pesquisa não é só a cura, mas é como o paciente leva o tratamento. Ter sintomas mais brandos é muito importante”, afirma.
Hoje, no Brasil, cerca de 4 mil pacientes fazem tratamento com a asparaginase bacteriana, importada de países como Alemanha e Estados Unidos e repassada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na terapia convencional, a asparaginase é administrada junto a diferentes coquetéis de medicamentos, em múltiplas injeções, durante duas das três etapas no tratamento contra a leucemia aguda: a remissão e a consolidação. A possibilidade de cura com o tratamento chega a 90%, de acordo com o Ministério da Saúde.
A descoberta da asparaginase humana modificada é só o primeiro passo de uma série de testes. A próxima etapa, segundo a pesquisadora, é incubar a substância com células leucêmicas para analisar se ela é mesmo capaz de matar o câncer e em quanto tempo.
Depois disso, é preciso medir qual dose é capaz de vencer a doença sem provocar reações. Esses testes serão feitos primeiramente em camundongos e devem durar aproximadamente três anos.
Só depois de aprovada na etapa com os animais de laboratório é que a substância pode ser levada à indústria farmacêutica pelo governo. Todo este ´processo até o remédio chegar ao paciente pode levar 10 anos.
Um outro problema a ser resolvido é a baixa produção da asparaginase de origem humana desenvolvida pelos pesquisadores. Hoje, não seria possível fabrica-la em grande escala para abastecer a demanda.
“Muitos grupos já tentaram essa modificação em outros países, mas só nós, brasileiros, conseguimos. Quem sabe não influenciamos o mundo todo?”, vislumbra a cientista.
Com informações da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia ) e site Saúde Abril.