Enquanto estivermos vivos, nossa essência pede movimento. Agir em épocas de crise e também de medo. Agir sempre, agir só.
Neste texto, Augusto Cury destaca que quando partimos na busca de nós mesmos nos libertamos e nos tornamos mais sólidos. Ficamos bem em nossa própria companhia. Boa leitura.
A ETERNA PROCURA DO EU
Nosso “Eu” tem um poder embotado, contraído, minimizado, que, se for liberto e exercitado, pode transformar as falhas em oportunidade para crescer, o desprezo pode ser transformado em nutriente para ser forte; as perdas, em canteiro para cultivar alegria; as crises, em possibilidade de escrever o mais belo romance com a existência…
Num dos meus romances psiquiátricos, O Futuro da Humanidade, um dos personagens, Falcão, um filósofo, é vítima de surtos psicóticos. Infelizmente, foi banido da sua universidade, sociedade, família, mas seu Eu, em meio à sua confusão mental, foi atrás do mais notável de todos os endereços, um endereço dentro de si mesmo.
E lá ele descobriu e se tornou íntimo da arte da crítica e da dúvida, atravessou inimagináveis desertos psíquicos e se reorganizou, fez as pazes consigo mesmo.
Observe o movimento humano, alunos estudando, casais se amando, amigos dialogando, religiosos meditando ou orando, ativistas lutando pelos seus direitos, políticos apontando caminhos, cientistas pesquisando, todos procurando os mais diversos endereços. Essa é a essência do que somos, e nada é tão fascinante.
Podemos e devemos percorrer muitos caminhos, mas, em especial, deveríamos ser caminhantes que andam no traçado do tempo em busca de si mesmos.
A virtualidade da consciência existencial nos introduz no oceano inimaginável da solidão paradoxal onde estamos próximos mas infinitamente distantes de tudo.
Esse oceano solitário nos impele a buscar ansiosamente a nós mesmos e aos outros. Sem o que o Homo sapiens seria um ser errante ilhado e não incontrolável e maravilhosamente social.
Augusto Cury, “A Eterna Procura do EU” do livro A fascinante construção do Eu, Editora Planeta, São Paulo 2011