Conquista requer esforço e dependendo do objetivo, ele será muito maior do que se imagina e aí bate aquela preguiça inocente e perversa.

Permanecer na zona de conforto é sempre tentador, mas a vida sempre se encarrega de nos lembrar que nossa existência é movimento contínuo. Ora estamos num determinado patamar, ora estamos em outro.

Nem todos encaram as mudanças com bons olhos, estão presos a padrões que só os soltam em situações extremas.

O ideal seria termos sempre olhos de exploradores, que têm em mente a vontade de experimentar sem se apegar aos resultados e focar no processo.

Nesta reflexão, Monja Coen relata sua experiência com exercícios físicos e faz uma comparação com as dificuldades que nos chegam de “presente” ( alguns são de grego mesmo), mas quando superamos, adquirimos uma visão mais clara da vida e, quem sabe, mais amorosa também.

Transcendendo obstáculos

 “Endireite a postura, prenda o abdômen e os glúteos, levante os joelhos, mantenha os braços em ângulo reto e faça o movimento da corrida. Vamos. Vamos.” Mônica Peralta, minha assessora de corrida, apita na Praça do Estádio do Pacaembu a cada dois minutos.

Dois minutos correndo forte e um minuto devagar. Os treinos acontecem duas manhãs por semana, quando ela vem me acordar. No início, eu apenas caminhava os 600 metros da praça.

Mônica foi paciente e insistente. Quantas vezes não quis me levantar, mas, ao pensar na jovem educadora física me esperando pouco depois das 6h da manhã, eu me esforçava.

“Comeu antes do treino? Beba água. Precisa se hidratar.” Eu a conheço há alguns anos. Chegou à comunidade para praticar zazen. Queria entender por que se machucava nas corridas.

Era corredora de maratonas e treinadora do PA Club, na época. Admirava o Abílio Diniz e sua família, que reconheciam a necessidade do esporte para uma vida saudável.

Sentava-se admiravelmente bem. Era capaz de suportar os retiros mais severos. Conhecia a dor. A dor da parede dos 30 quilômetros.

“Nas maratonas, uma parede invisível surge por volta dos 30 quilômetros. Temos de atravessar essa muralha. A perna dói, o corpo reclama, a mente quer parar. Mas não paramos. Ao atravessar essa muralha, tudo se transforma. Apenas ouvimos os sons de nossos próprios passos na pista.

Entramos em outra onda cerebral, outro estado.” As paredes não são apenas nos 30 quilômetros de uma maratona. Elas podem surgir em qualquer momento de nossa vida.

Paredes invisíveis que nos dizem: “Pare, deixe para lá, vá fazer outra coisa, está difícil, chega, cansei”. E, se persistirmos, se atravessarmos essa fase, a vida fica mais real e mais verdadeira.

Os sentidos alertas, a mente clara e luminosa, os batimentos cardíacos, a respiração, a alimentação, a hidratação.

Hoje Mônica tem uma assessoria de corrida e mais de 100 praticantes, a quem dá treinos regulares. Eu sou uma delas. Dos 600 metros caminhando, hoje posso correr 5 quilômetros.

Participei de várias provas e redescobri a alegria da atividade física. Nosso corpo precisa de movimento, de ação que cause impacto (isso retarda ou inibe a osteoporose) e que acelere o coração, ativando a circulação.

Com ela aprendi a cuidar de minhas refeições regulares, perceber as alterações na corrida conforme a alimentação do dia anterior.

Quando viajo para dar palestras ou participar de eventos nacionais ou internacionais, levo um par de tênis – e minha treinadora também vai comigo, em minha mente. Eu a ouço dizer: “Endireite a coluna, força no core, vai, vai, vai”. 

Cada obstáculo é uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Levante-se e corra, caminhe, movimente-se. Vida é movimento, atividade.

Corpo saudável é mente saudável. Canse o corpo e repouse a mente.

Monja Coen, “Transcendendo obstáculos” do livro “A Sabedoria da transformação” Editora Planeta, São Paulo, 2014






Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.