Em geral, tem-se a falsa noção de que uma ação de preservação ou tombamento é tornar tudo limpo e arrumado, afastar da paisagem tudo o que seria considerado marginal e social ou culturalmente inadequado. Antes de definir o que seja patrimônio é necessário conhecer sobre preservação, conservação, restauração e tombamento.
Preservar tem tudo a ver com prevenção, com a conscientização de um grupo, pessoas, instituição e até mesmo do poder público. Ao passo que o tombamento é o ato legal para que a preservação aconteça. Preservar não significa transformar o local em museu intocável, pelo contrário, as boas ações de preservação inserem a população local dando um sentido de apropriação e uso do local. A preservação garante para as gerações futuras a compreensão do seu passado que traz vários aspectos como a culinária, a dança, os costumes e saberes. Tomam toda a sua cultura como patrimônio. É o patrimônio imaterial.
A cada dia as cidades crescem e envelhecem e faz-se necessário entender que o velho e o novo podem conviver lado a lado, mantendo as características da cidade. Existem iniciativas que isentam os proprietários de certos tributos ao manterem edificações históricas, mas nem sempre esta ação é bem sucedida devido ao alto custo de manutenção. Por outro lado, há a total desinformação por parte de proprietários e até de comunidades inteiras em relação ao patrimônio cultural e material que muitas dessas edificações possuem. É um problema de educação cultural e até de empreendimento.
As movimentações de ocupação dos espaços e a “necessidade imobiliária” de empurrar à margem o que não tem valor monetário é um problema, em especial quando o patrimônio arquitetônico, está tendo outro valor de uso e ocupação. Um destes exemplos de “gentrificação” foi a política “Bota Abaixo” do prefeito Pereira Passo no Rio de Janeiro no início do século XX. Tal política foi inspirada na Paris do século XIX, que destruiu centenas de construções por acharem que estava tudo ruim. A decadência social em geral acompanha a dos espaços arquitetônicos e em geral de outras praças e ajuntamentos.
De fato, projetos chamados de preservação, mas que engessam e às vezes descaracterizam e/ou museificam espaços não fazem sentido à preservação como um todo e nem a cidade.
O valor que os espaços propiciavam enquanto sociabilidades e trocas (sejam elas de quaisquer natureza: culturais, políticas, comerciais, entre outras) e os espaços arquitetônicos como a materialização de fazeres e viveres é subestimado. Essa urbanidade vivida e pulsada em cada rua, em cada edificação, é que trará valor para além dos aspectos imobiliários.
*com informações de site da Eliana Rezende.