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70 anos do livro “1984”, a obra visionária de George Orwell

“A aceitação de qualquer disciplina política parece ser incompatível com a integridade literária”, afirmou George Orwell, que não admitia a subserviência da intelectualidade seja aos regimes de direita ou de esquerda.

George Orwell era o pseudônimo de Eric Arthur Blair, nascido na Índia em 1903. Filho de um funcionário colonial inglês, estudou numa escola da elite britânica, mas ao invés de seguir para Oxford, entrou para a Polícia Imperial Britânica, onde conheceu toda a truculência do império inglês para controlar as colônias.

Não conseguiu seguir a carreira militar e decidiu abraçar uma vida mais boêmia, mais solta em Paris e em Londres a ponto de quase virar mendigo. Em 1936 lutou na guerra civil espanhola contra o franquismo.

Ele se denominava um social democrata com um grande senso de justiça e busca da verdade. Estas características o levaram a se tornar jornalista, ensaísta e romancista e seu trabalho ajudou a desencantar as utopias políticas, em especial a soviética.

Contudo, Orwell foi protagonista de um episódio controverso em que entregou para o serviço secreto britânico uma lista de 130 nomes suspeitos de serem comunistas. Dentre eles, Charles Chaplin e J. B. Priestley.

Isto aconteceu em 1949, ele estava hospitalizado cuidando de uma tuberculose e morreu no ano seguinte aos 46 anos.

“1984 “- emblemático e atual

Orwell queria o título fosse “O último homem da Europa”, mas seu editor Frederick Warburg pediu algo mais comercial. O livro foi escrito em 1948 e ele trocou a ordem dos últimos dígitos. A ideia foi abraçada pelo editor, já que a trama mostrava que aquele futuro não estava tão distante assim.

De tempos em tempos este clássico publicado originalmente em 1949  ganha reedições com picos de vendas. É tida como uma obra profética, pois no séc 21 nada mais atual que falar de big brother, da falta de privacidade e de regimes a caminho do totalitarismo.

De acordo com o professor de inglês Michael Callanan, o livro desperta paixões por conta do seu paradoxo, atualíssimo mesmo com 70 anos de sua publicação. Callanan trabalha na organização do Prêmio Orwell da Juventude, destinado a estimular os jovens a manifestarem suas opiniões políticas.

Para a diretora da Fundação George Orwell, Jean Seaton, a obra é visionária. Jean leciona História da Mídia na universidade de Westminster e compara o trecho do livro chamado “dois minutos de ódio”, em que a população é incitada a odiar o “inimigo do povo” com o ódio que é vertido nas redes sociais atualmente.

Expressões que geraram picos de vendas

Além dos “dois minutos de ódio”, uma outra expressão do livro foi usada por uma assessora de Donald Trump que levantou polêmica: “fatos alternativos”, numa alusão ao trabalho do personagem principal Winston Smith, funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos responsáveis por reescrever a história a fim de moldar o pensamento da população de acordo com os interesses do governo tirano.

“1984” já vendeu 30 milhões de exemplares nos EUA desde a sua publicação e em 2017, segundo à Penguin Books, teve um aumento de 165% em relação à 2016 graças a “era Trump”.

Em 2013, as vendas do livro aumentaram quando Edward Snowden, ex-analista do governo americano, divulgou como age a vigilância da Agência de Segurança Nacional, a ANS (sigla em inglês), sobre a população americana, assim como o personagem Big Brother que está sempre de olho em você.

A obra de Orwell também está presente no documentário “Privacidade Hackeada”, dirigido por Jehane Noujaim e Karim Amer em que o monitoramento constante da Cambridge Analytics transforma os dados pessoais no bem mais valioso do mundo, capaz de promover repressão, guerras culturais e políticas.

A cada dia ficamos mais enredados e “reféns” da tecnologia e plataformas digitais e isto não tem mais volta, basta ver as propagandas direcionadas que aparecem baseadas na nossa navegação.

Jean Seaton, diretora da Fundação George Orwell garante que as pessoas lêem o livro quando jovens e depois o releem e compreendem os fatos sob uma nova percepção, além disso, elas buscam nele o que deveriam temer.

Muitos, ao fecharem o livro, talvez se assustem em perceber que nesta obra escrita em  1948, pouca coisa mudou.

Fonte: Exame, guia do estudante

 

 

 

 

 

 

Revista Ecos da Paz

Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.

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